Arábia Saudita investe R$4 TRILHÕES para turismo, mas continua violando liberdade humana

 Arábia Saudita investe R$4 TRILHÕES para turismo, mas continua violando liberdade humana

Família Real vem afrouxando sua legislação ultraconservadora apenas para visitantes ao país.

Por Victor Bhering - @vic_bhering11


Vista aérea de Ryad, capital da Arábia Saudita- Foto: Apriltan18/Creative Commons.

Constantemente alvo de denúncias por violações dos direitos humanos, a Arábia Saudita está progressivamente se abrindo para o mundo. O país tem o objetivo de se posicionar como uma potência no turismo global até 2030, e o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman está investindo consideravelmente, tanto em esforços quanto em recursos financeiros, para alcançar essa meta.

O reino de Bin Salman está passando por uma fase de mudanças radicais em diversos aspectos. Em um ritmo vertiginoso, estão sendo construídas cidades, ilhas, hotéis de luxo, parques temáticos, resorts e até uma estação de esqui em pleno deserto. 

Essas iniciativas, financiadas principalmente pelo fundo soberano do país, têm um orçamento inicial de US$ 800 bilhões (cerca de R$ 4 trilhões e 24 bilhões na cotação atual). No entanto, de acordo com análises do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (tradução do inglês para "World Travel & Tourism Council"), dada a rapidez dessas transformações nos últimos anos, é provável que esse valor já tenha sido ultrapassado.

Só em 2023 foram lançadas mais de 20 novas rotas aéreas no país. Até o final de deste ano serão mais dez, conectando o país à Europa. A presença de turistas europeus na Arábia Saudita cresceu 67%, no último ano. As grandes marcas de hotelarias de luxo já estão no país. Em entrevista ao portal especializado em viagens Skift, Fahd Hamidaddin, CEO da Autoridade de Turismo Saudita, diz que, a cada semana, um novo resort é inaugurado na Arábia Saudita. Um ritmo sem precedentes na história.

Início do turismo internacional

A Arábia Saudita só permitiu viagens internacionais de lazer em 2019, antes disso, a entrada no país era basicamente restrita a dois grupos de turistas: viajantes a negócios e peregrinos religiosos em direção às cidades sagradas de Meca e Medina. Atualmente, vistos eletrônicos são concedidos na chegada ao país para passageiros de quase 50 nacionalidades, incluindo os brasileiros. 

Desde a abertura das fronteiras até o momento, o governo saudita celebra ter alcançado a marca de 100 milhões de visitas, surpreendendo até mesmo as autoridades, que inicialmente previam atingir esse número somente em 2030. 

Embora os números sejam impressionantes, é importante uma análise mais cuidadosa para evitar a impressão de que o turismo na Arábia Saudita alcançou um patamar mais elevado do que realmente se encontra. A quantidade de visitas nem sempre reflete o número de visitantes, como destacado pela consultoria Euromonitor. Além disso, é crucial considerar que, por enquanto, a grande maioria das visitas é de origem doméstica.

Vista aérea de Ryad, capital da Arábia Saudita - Foto: Divulgação/TGG Italia.


Diante das novas estatísticas, o Ministério do Turismo, sob orientação do príncipe herdeiro, revisou suas metas. Agora, o objetivo é chegar a 150 milhões de visitantes até o final desta década, com 80 milhões de visitantes domésticos e 70 milhões internacionais.

Os ambiciosos planos das sauditas para o turismo são verdadeiramente impressionantes. Além de aprimorar os pontos turísticos já estabelecidos, como tours por museus, visitas a mesquitas e passeios por desertos e oásis, o governo está embarcando na criação de novas atrações a partir do zero. 

Muitos desses empreendimentos estão inseridos no megaprojeto Neom, concebido como um destino sustentável e altamente tecnológico, sendo a primeira cidade vertical do mundo. Com um orçamento colossal de US$ 700 bilhões, o projeto está situado nas fronteiras do país com a Jordânia e o Egito.

Projeção gráfica de como será Neom, a primeira cidade vertical da história - Foto: Turist Saudi The Guide.

Super embaixador argentino

Com um investimento declarado de US$ 25 milhões e intitulada como "Go Beyond What You Think" ("Vá além da sua imaginação", em tradução livre), o governo saudita tem como porta-voz da nova campanha o jogador de futebol Lionel Messi, considerado como uma das maiores personalidades da história do esporte.

Messi e sua família curtindo as férias na Arábia Saudita - Foto: Arabia Business.


E a liberdade?

Para atrair estrangeiros, o país ultraconservador tem flexibilizado algumas leis sociais, especialmente para os turistas. Por exemplo, as mulheres viajantes agora estão dispensadas do uso obrigatório das abayas, vestimentas que cobrem o corpo dos ombros aos pés, exigidas para as mulheres sauditas. Além disso, elas têm permissão para viajar sem a companhia masculina, algo proibido para as mulheres sauditas. 

Apesar de alguns pequenos avanços nos últimos anos, particularmente a partir de 2019, a Arábia Saudita é considerada por grupos de direitos humanos como uma das ditaduras mais repressivas do mundo. 

Além da segregação de gênero, a população saudita enfrenta uma série de restrições e punições severas. Execuções sumárias são comuns no país. 

Segundo o relatório Freedom in the World 2024, elaborado pela Freedom House, uma ONG que avalia a democracia nos países, o regime saudita depende da vigilância generalizada, da criminalização da dissidência, da exploração de divisões sectárias e étnicas, e do gasto público financiado pelas receitas do petróleo para manter seu poder. A entidade classifica a Arábia Saudita como uma nação "não livre".

Chegamos no fundo do poço como sociedade, infelizmente...


Sobre o autor:

Olá! Me chamo Victor Bhering, tenho 18 anos, e atualmente cursando o primeiro semestre de Jornalismo na UAM. Meu objetivo com este blog é treinar os fundamentos técnicos da profissão, além de poder expor minha opinião em alguns artigos, mas sempre com imparcialidade, como o ofício exige.

Agradeço do fundo do coração caso você tenha lido até o final! Abraços! :)

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